Aqui quem fala é a pessoa mais desconfiada que existe. Talvez eu esteja escrevendo aqui pra saber o que tem em minha mente, o que tem no meu coração.
Eu na realidade nem sei com qual mão esse texto está sendo escrito.
Eu estou ouvindo a trilha sonora de vários lutos já vividos. A trilha sonora que me faz esquecer grandes amores, terrores e desamores.
É estranho, pois talvez seja uma fuga de proteção para esquecer antes de lembrar, pra se certificar que nada é real, os traumas não querem que seja real, eles me fazem acreditar que tudo é uma grande mentira, uma grande ilusão jamais vivida antes, afinal, para mim, que nem mãos tenho, acreditar no surreal é se perder num mar cor de rosa.
Eu já chorei, me emocionei, só falta meu frisante pra me embebedar no meu conforto de solidão imposta e já conformada.
O quanto é injusto acessar o teórico bom senso, perceber a tranquilidade que é se permitir, e ainda ter que ir devagar, porque podemos perder a mão (como já perdi)
Que vergonha eu sinto.
Quero me esconder, quero me preparar pra me decepcionar em paz, quero apagar da memória todas as poucas boas lembranças e estrangular todas as expectativas.
Talvez o nome dela não seja Inaê, talvez essa sensação seja só uma ludibriação da minha mente que acha que o mundo ou alguém vai resolver essa paz que é ter uma linda menina sarará com os olhos claros.
Essa carta não é sobre Nana, nem Janaína.
É sobre Joanna Famile.
Essa carta é sobre essa mulher que não acessa o que poderia ser normal, que não tem mãos, por ter perdido elas num desespero mental e vergonhoso.
Essa carta é sobre uma mulher que não sabe amar e tem pressa de amar, de amor, de viver uma manhã de domingo numa casa gigante, com dois filhos e o marido.
Amar é um ato político e de coragem.
A conquista é gostosa só no início, depois perde o gosto, o encanto e quem não sabe se relacionar fica com uma vergonha horrorosa de ter caído na mesma lábia.
Não é real, não é real, não é real, não é real, não é real.
Um mantra insistente, pra não cair no abismo que já se é.
Minhas mãos estão escrevendo isso de algum lugar que eu não sei, não as tenho.
E o que eu to lendo me desespera. não sei de onde meu cérebro está mandando comandos para que tudo isso esteja sendo escrito.
Eu não quero ler, eu não quero saber.
Eu quero me esconder de toda essa novela das 6, que conta historinhas de pimenta no chocolate, de tinta verde na cara.
Eu estou desesperada.
Minhas mãos estão escrevendo e eu não sei onde elas estão.
Meu futuro está nelas.
Alguém me tira dessa loucura que é minha insegurança de amor que nunca mais tinha acessado?
Me peguei pensando nisso nos últimos dias. Em vários momentos o silêncio gritou meu nome e deixei o meu ego - ou minha mania de saber tudo - passar na frente. Ele alerta, conversa, até que ele grita com a gente e ainda assim, nós ignoramos. Se pararmos pra analisar nosso cotidiano, você se pega pensando: - poxa, acho que falei demais, acho que falei o que não deveria ou acho que magoei aquela pessoa... Eu penso que o silêncio é ancestral, que silêncio é magia boa, silêncio é a certeza inexplicável. E silenciar é muito difícil, porque a gente quer falar, a gente quer ser ouvido, mas não queremos escutar e pra escutar é preciso ceder, por vezes, até mudar de opinião e perceber que nada é estático. Tudo se transforma a todo momento e isso é inevitável. Bater de frente com o movimento silencioso da vida, é burrice. Estamos de acordo que, não sabemos tudo, que não temos a resposta pra tudo, que os caminhos e atalhos mudam num piscar de olhos. E pra perceber esse d...
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