A CARTA SEM MÃOS
Aqui quem fala é a pessoa mais desconfiada que existe. Talvez eu esteja escrevendo aqui pra saber o que tem em minha mente, o que tem no meu coração. Eu na realidade nem sei com qual mão esse texto está sendo escrito. Eu estou ouvindo a trilha sonora de vários lutos já vividos. A trilha sonora que me faz esquecer grandes amores, terrores e desamores. É estranho, pois talvez seja uma fuga de proteção para esquecer antes de lembrar, pra se certificar que nada é real, os traumas não querem que seja real, eles me fazem acreditar que tudo é uma grande mentira, uma grande ilusão jamais vivida antes, afinal, para mim, que nem mãos tenho, acreditar no surreal é se perder num mar cor de rosa. Eu já chorei, me emocionei, só falta meu frisante pra me embebedar no meu conforto de solidão imposta e já conformada. O quanto é injusto acessar o teórico bom senso, perceber a tranquilidade que é se permitir, e ainda ter que ir devagar, porque podemos perder a mão (como já perdi) Que vergonha eu