No momento em que estou escrevendo esse texto, estou no escuro do quarto, ouvindo Proud Mary. Sentindo todo o meu corpo cansado, com o vento do ventilador batendo no cabelo molhado.
Mas por que comecei assim?
Vamos conversar e pensar comigo?
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É sabido que por muitos e até hoje, a mulher preta é a mais desrespeitada, negligenciada. A mais suscetível a invisibilidade. Porque? Primeiro vem o racism0, segundo por ser mulher, terceiro por ser uma mulher preta. Antigamente a mulher preta ficava nas cozinhas dos senhores de engenho fazendo o alimento e os servindo. A mulher preta sempre teve o papel do cuidado ao outro, aos filhos, patrões, e até os próprios maridos.
A mulher preta servia não só os afetos alimentícios, como também era o afeto alimentício, o dever de oferecer o prazer carnal, pro seu marido e pro marido da sinhá.
A todo momento sendo sugada emocionalmente, fisicamente e psicologicamente.
A mulher preta foi ensinada a levar o mundo nas costas.
A obrigação de satisfazer a todos, de ter aprovação de pelo menos um. Ou seja, nunca foi e nunca será suficiente o que a mulher preta fizer. Muitas morreram angustiadas, tristes, ocas por dentro de um corpo massacrado ao prazer e felicidade do outro.
A mulher preta acordou e começou a gritar!
Nos chamam de raivosas, quando dizemos não, quando cuidamos de nós mesmas...
Mas vocês percebem que a tortura ainda continua e a "cor do pecado" ainda é uma frase que vulgariza ainda mais a cor e o corpo preto feminino?
Como de costume, a mulher preta teve que aprender a se amar exatamente como ela nasceu, se achar linda, quebrar todos os paradigmas doentios que implantaram nela. E com essa rotina da busca pelo autoamor, ela encontrou a si mesma, sozinha e cheia de cacos. E por mais uma vez, no século 21, ela ainda se encontra só.
A solidão da mulher preta trouxe a procura da validaçao, a solidão da mulher preta trouxe o afeto pessoal nelas mesmas. O nosso amor, quando encontrado dentro de nós, move montanhas impossíveis de diluir.
Agora, depois desse resumo, te explico o porquê do início do texto. Eu cheguei em casa, mesmo cansada, eu tomei um banho com uma água morna, molhei a cabeça, pois, tinha carregado o mundo nas costas, o dia todo. Deitei na cama, respirei um pouco e fui preparar meu alimento. Me alimentei e agora coloquei uma música que eu gosto e estou vivendo a minha presença importante na terra. Estou curtindo minha noite, do meu jeito. Auto cuidado, amor próprio.
As mais atingidas são as que reconstroem seus próprios corpos . A mulher preta vive, sobrevive e revive tudo.
O afeto da mulher preta está dentro dela, sozinha, independente e resiliente.
Uma mulher preta viva é uma Reparação Histórica.
Deus é uma mulher preta.
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E você mulher preta, já se reparou hoje?
Me peguei pensando nisso nos últimos dias. Em vários momentos o silêncio gritou meu nome e deixei o meu ego - ou minha mania de saber tudo - passar na frente. Ele alerta, conversa, até que ele grita com a gente e ainda assim, nós ignoramos. Se pararmos pra analisar nosso cotidiano, você se pega pensando: - poxa, acho que falei demais, acho que falei o que não deveria ou acho que magoei aquela pessoa... Eu penso que o silêncio é ancestral, que silêncio é magia boa, silêncio é a certeza inexplicável. E silenciar é muito difícil, porque a gente quer falar, a gente quer ser ouvido, mas não queremos escutar e pra escutar é preciso ceder, por vezes, até mudar de opinião e perceber que nada é estático. Tudo se transforma a todo momento e isso é inevitável. Bater de frente com o movimento silencioso da vida, é burrice. Estamos de acordo que, não sabemos tudo, que não temos a resposta pra tudo, que os caminhos e atalhos mudam num piscar de olhos. E pra perceber esse d...
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